Espaço em Paris coloca visitantes dentro da obra de Klimt

Uma imersão completa no universo de Gustav Klimt sem ver nem mesmo uma obra original diante de seus olhos. Essa é a proposta do Atelier des Lumières, em Paris, em sua exposição de estreia, dedicada aos precursores vienenses do movimento de renovação artística do início do século 20.Inaugurado em abril, o centro de arte digital parisiense convida o visitante a (re)descobrir a carreira do célebre artista austríaco por meio de uma experiência lúdica, sensorial e única. Uma ótima opção para quem deseja ir além dos roteiros clássicos pela capital francesa.

No Atelier des Lumières, vídeos são projetados do chão ao teto, em paredes de 10 metros de altura, numa área de 3.300 metros quadrados.

No Atelier des Lumières, vídeos são projetados do chão ao teto, em paredes de 10 metros de altura, numa área de 3.300 metros quadrados. Foto: Nathalia Garcia/Arquivo Pessoal / Estadão Conteúdo

Não pense em uma contemplação estática das obras de arte. Os quadros de Klimt são projetados, ao longo de 35 minutos, no chão e nas paredes de 10 metros de altura por todo o ambiente, uma fundição do século 19 inteiramente revitalizada, com o auxílio de 140 vídeo-projetores, numa área de 3.300 metros quadrados. O espetáculo panorâmico é embalado por uma trilha-sonora envolvente, composta por Chopin, Wagner, Beethoven e outros clássicos. O som, propagado por 50 alto-falantes, completa a experiência visual.

Fica um alerta: você não sairá do Atelier des Lumières sabendo os nomes dos quadros exibidos, a data de criação de cada obra nem os materiais que foram usados nas produções artísticas. A exposição propõe uma explosão de sentidos, cores e formas. Se estiver preparado para entrar de cabeça nesse cenário, você não voltará o mesmo desse mergulho. Há quem sente no chão para absorver o cenário com mais tranquilidade; outros, ficam de pé. A pedida é se sentir confortável.

 

A viagem começa pela Viena neoclássica. Os afrescos de Gustav Klimt e de Hans Makart aparecem progressivamente na arquitetura do museu Kunsthistorisches, dedicado à história da arte. O jovem Klimt se desligará dessa vertente artística, do fim do século 19, para se engajar na Secessão Vienense.

O início de tudo

Em 1897, o palácio da Secessão torna-se um local de exposições de uma nova corrente vienense que deseja transformar a arte profundamente. Um outro campo de expressão é o desenho gráfico, no qual a revista Ver Sacrum e os cartazes de exposições são notáveis. O movimento art nouveau, liderado por Klimt, é refinado e explora o conceito geométrico da ornamentação. A exposição dá uma pincelada nesse contexto histórico, mas o visitante que tiver conhecimento prévio conseguirá desfrutar melhor a narrativa nesse primeiro momento.

Entramos, em seguida, no ponto mais emblemático da exposição: a fase dourada. Klimt, cada vez mais distante do neoclassicismo, associa-se ao simbolismo. O dourado e a ausência de perspectiva são as principais características de sua nova fase. Destacam-se suas obras-primas: Retrato de Adele Bloch-Bauer (1907) e O Beijo (1908). Se quiser uma foto ao lado da icônica imagem, fique atento e seja rápido.

Fora do grupo da Secessão, Klimt explora um novo tema artístico para enriquecer suas pesquisas pictóricas e cromáticas: as paisagens. Seus quadros ganham o semblante impressionista, como na obra Campo de Papoulas (1907). A natureza invade o grande salão em tons de verde, e a representação de flores e troncos reproduzem uma fase dotada de delicadeza. A temática conduz o público a apreender a influência mútua entre Klimt e Schiele, que se diz um observador da anatomia humana.

Progressivamente, o pintor austríaco abandona o dourado para explorar as infinitas possibilidades das cores. A fascinação de Klimt pelas mulheres é representada de forma onírica e erótica. Tecidos e roupas de mulheres sensuais e majestosas misturam-se aos elementos de plano de fundo, trazendo vivacidade para todo o salão. O desenlace ocorre com a propagação da Árvore da Vida (1909), que se esparrama vagarosamente pelas paredes do Atelier des Lumières. Não se contente em ver a exposição uma única vez, explore novos ângulos e percorra o ambiente, inclusive o mezanino, para uma recordação memorável de sua visita.

Outros cenários

A experiência engloba também duas exposições em programa curto: Hundertwasser e Poetic_AI (somente até 31 de agosto). Concebida por Gianfranco Iannuzzi, Renato Gatto e Massimiliano Siccardi, com a colaboração musical de Luca Longobardi, Hundertwasser exibe a obra do pintor e arquiteto Friedensreich Hundertwasser (1928-2000), influenciado pela Secessão Vienense e pela revolução artística liderada por Klimt. Já Poetic_AI – criada pelo coletivo Ouchhh – recorre à inteligência artificial no processo de criação visual. As formas, a luz e os movimentos são gerados por um algoritmo, que concebe uma obra digital contemplativa. Uma dica: vá até o Studio Bar para tirar melhor proveito dessa imersão.

Serviço

Atelier des Lumières: 38 Rua Saint Maur – 75011 – Paris

Como ir: Metrô – Voltaire e Saint-Ambroise (linha 9), Rue Saint-Maur (linha 3) e Père Lachaise (linha 2).

Até quando: 11 de novembro de 2018.

Horários: Segunda a quinta – 10h às 18h / Sexta e sábado – 10h às 22h / Domingo – 10h às 19h.

Atenção: ingressos à venda na bilheteria somente até as 16 horas durante a semana e apenas online aos sábados e domingos.

Preço: € 14,50(adulto) / € 13,50(acima de 65 anos) / € 11,50(estudantes) / € 9,50 (5 a 25 anos) / € 42(família – dois adultos e dois jovens até 25 anos)/ gratuito para menores de 5 anos.

Por Nathalia Garcia, especial para o Estado | Fonte: Terra