RESTAURO DO PALACETE TIRA-CHAPÉU: UM TRABALHO EM MUITAS FRENTES

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC-BA), o Palacete Tira-Chapéu é um dos poucos remanescentes do estilo eclético em Salvador, com adornos que podem ser identificados da arquitetura barroca ao estilo clássico.

Na composição da sua fachada, por exemplo, há colunas com fustes canelados e capitéis coríntios, atlantes e esquadrias que formam uma composição bem marcada e ordenada. No interior do edifício, as misturas de referências são evidenciadas nos pilares, pisos, disposição e forma das escadas, e nos elementos decorativos em estuque nos forros e coroamento das paredes.

Fotos: Divulgação

O restauro é desenvolvido pela Elysium Sociedade Cultural, dedicada ao patrimônio material, com restauração e dinamização de edifícios e parques, em várias regiões do País.

Nos últimos meses, os trabalhos têm sido focados na cobertura do edifício. Restaurar um prédio tão imponente quanto o Palacete Tira-Chapéu demanda tempo, dedicação e muito cuidado. Assim, era preciso garantir o quanto antes os reparos na cobertura, essencial também na preservação dos elementos internos. Para tanto, todo o madeiramento do telhado foi revisado e substituído onde se fez necessário. As telhas originais foram higienizadas, e as quebradas, descartadas e substituídas por similares.

Como o sistema de calhas do edifício tinha sérios danos, um projeto com novas calhas e descidas de prumadas pluviais garantiu o funcionamento de todo o sistema. “Começamos os trabalhos de restauro em fevereiro do ano passado e estamos quase concluindo a primeira etapa, que garante a consolidação da estrutura do edifício depois dos anos de abandono.

O telhado, por exemplo, estava destruído, com muita infiltração de água, portanto foi necessário fazer o reforço estrutural. O próximo passo será a restauração detalhada dos vários elementos artísticos do Palacete”, explicou Wolney Unes, diretor da Elysium Sociedade Cultural e responsável pelo restauro do Tira-Chapéu.

FACHADAS IMPACTANTES

Simultaneamente, também temos trabalhado nas fachadas, restaurando suas esculturas e esquadrias. Fizemos a revisão do reboco, o preenchimento e alinhamento onde se fez necessário. As cores foram definidas junto ao IPHAN-BA, com base na prospecção de pintura e na análise de fotos antigas do edifício. Já as esquadrias foram retiradas, restauradas por nossa equipe de marceneiros, pintadas e instaladas. Atualmente, estão passando pelo seu último processo, que é a instalação dos trincos, cremonas e vidros.

PINTURAS NAS PAREDES

No ambiente interno do Palacete, as atividades de restauro priorizam o pavimento térreo. As paredes de alvenaria de pedra passaram pelo processo de embrechamento. Esse serviço consiste no preenchimento, das partes faltantes e fissuras da alvenaria, com pedras similares às preexistentes, para a recomposição homogênea da superfície. Investigando pinturas parietais, encontramos os seus vestígios nos rodaforros de todas as salas do térreo, assim como em outros ambientes do edifício.

É que, ao longo dos anos e dos diferentes usos das salas do Palacete, as paredes receberam diversas camadas de tinta, entre outros tratamentos. A decapagem desse material sobreposto revelou as pinturas decorativas de cada ambiente.

O SALÃO CHILE

Nas paredes do Salão Chile, foi descoberta a pintura preexistente da antiga Farmácia Chile, que funcionou ali. Na próxima etapa, tais pinturas passarão pelo processo de consolidação e recomposição. Lá, quem olha para cima nota que os forros de madeira do teto foram retirados. Fizemos isso em todo o pavimento térreo para o seu restauro e para viabilizar as obras de reforço estrutural do edifício. Após a finalização desta etapa, os forros serão recolocados.

Houve também um achado muito importante no Salão Chile: o piso de ladrilho hidráulico. “A equipe do restauro reúne profissionais experientes de Salvador, serralheiros de Manaus, operários com prática em ornatos de argamassa, artesãos de Goiás e de Minas Gerais, os melhores do Brasil, para fazer um trabalho a altura do valor desse edifício”, explicou Unes.

ATENÇÃO AO PISOS

Em outras áreas do primeiro pavimento, estamos agora trabalhando nos pisos e rodapés. Uma das salas já está com piso, rodapé e esquadrias restaurados. Fazemos também testes de acabamento nas tábuas de madeira, em busca do melhor resultado para a recomposição dos ambientes internos.

UMA ESCADA ESPECIAL

A escada de madeira do primeiro pavimento teve o seu restauro concluído. Encontramos a estrutura com diversas peças faltantes e precisamos escorá-la em razão da instabilidade. Fizemos o mapeamento de danos e o cadastro das peças; desmontamos a escada que foi, posteriormente, tratada. Novas peças foram produzidas com base nas originais, e o restauro foi concluído com sucesso. Remontada, a escada está agora isolada, para que o fluxo dos serviços da obra não danifique a sua estrutura.